Reunião no Quarto

Lucy sentou-se numa pequena almofada de futon, arrumando seu vestido para cobrir suas coxas.

— Só estou confusa. Quanto ao meu corpo, sempre tive as capacidades das quais você diz. — sorri e pisca — Não sei o motivo para isso, mas terei prazer em mostrar-lhe como funciona. — reparou na linguagem corporal de MasteraX por debaixo da máscara e deixou o flerte de lado — O estranho é que a roupa que estou usando de fato é minha mesmo. Seja lá quem nos lançou até aqui, sabe muito sobre nós.

Olhou para Cyber e seu jaleco fechado. Era engraçado ver um garoto cientista vestido apenas com aquilo.

— Bem, se eu tivesse sua capacidade de abstração, estaria na divisão Científica e não na 13ª! — falou em tom de brincadeira.

— Enfim, MasteraX. — voltou ao assunto principal — Realidade alternativa ou fluxo temporal, certo? Se vocês possuem corpos mais próximos dos humanos, estamos numa dimensão definitivamente mais pacífica que a nossa. Suponho que por aqui reploids de combate sejam mais raros ou até inexistentes. Quando X retornar, provavelmente trará boas notícias. O problema é saber quem nos trouxe até aqui. Pode muito bem ser uma armadilha para sermos atacados enquanto estivermos indefesos. Mas acredito que teremos tempo até acharmos uma saída.

Imaginou como X e Zero estavam. Estava informada dos rumores na Base de que X, sendo uma obra-prima e não mais uma bucha de canhão, tinha um corpo similar ao humano por debaixo da armadura. Porém nunca tivera chance de vê-lo nem mesmo sem o capacete, aquele capitão todo certinho. Não sabia sobre Zero, mas também deveria ter um corpo sexy humanoide. Pelo menos já o vira sem elmo e de cabelos soltos em alguns momentos.

— Já que eles estão aqui, agora estou ansiosa pelos resultados! Se tudo estiver bem, nós podemos fazer uma festinha na cozinha, se é que vocês podem comer, mas tudo indica que sim. — olhou para o vestido mais uma vez, lembrando que MasteraX estava disposto a responder mais perguntas — Mas voltando ao assunto, você conseguiu achar pertences seus? Kits de reparos, pertences pessoais, dinheiro? Isso é importante.

"O quarto precisa ser decorado o mais rápido possível. Muito japonês e bege para meu gosto..."

— Mas se não tiver, eu posso conversar contigo em particular para levantarmos alguns fundos...

"...mas com esse monte de homem por aqui, dá para esperar!"

* Volta o olhar para Lucy, ele não sabia o real motivo, mas algo no comentário da reploid mexeu com ele, algo em seu interior, uma pequena pontada em sua mente. Algo em seu lado esquerdo para ser mais preciso*


* Sua expressão ficou séria e sua voz saiu com o habitual tom de maquina, apesar da voz de um adolescente de 15 anos *

- Possuo outras habilidades além dessas que são bem utilizadas na décima terceira, sou observador não abstrai nenhum fato, espero ter mais relatos para montar meu parecer, o que parece diferir de sua pessoa... * O olho esquerdo de Cyber brilha com uma forte luz azul ele sorri para Lucy quebrando completamente a pose de garoto maquina* - Julgando você pelo pouco que te conheço não faço ideia de como você foi parar na décima terceira, QUERIDA VOCÊ É UMA PERFEITA REPLOID DE BOUTIQUE!... Oh...

* A voz do garoto muda, fica mais fina um leve tom elevado, não era uma voz masculina, quando Cyber retorna a si leva as mãos a boca, sua expressão muda para preocupação*

- Pequena Diabrete de língua afiada * Sussurra consigo mesmo *

— Fui comissionada direto para lá e consegui minha posição de tenente sozinha. E você, o que faz na Base? Brinquedinho do Maximillian? Aquele depravado! — Podiam rir da sua aparência, podiam rir do seu estilo de vida, mas todo reploid que a conhecesse e não fosse Maverick sabia que não se podia questionar a competência de Luthiena como Huntress. O pegou pelo colarinho do jaleco e o aproximou de seu rosto:

— Posso estar sem armadura, mas ainda sou uma reploid de combate, ainda tenho meu treinamento, e você é um Angel. Mesmo você tendo corpo de adolescente, esteja avisado que eu não vou pegar le-

Espera.

"Querida" e "reploid de boutique"? Nem como civil Lucy falava de maneira tão afetada. E tinha percebido muito bem como a voz de Cyber ficou mais aguda de repente. Aquele garoto precisava andar mais com reploids de inteligência artificial da mesma idade que a dele. Vai que achasse um outro que também gostasse de rapazes.

Não tinha interesse nenhum por adolescentes, mas sabia de gente boa em conseguir informações pessoais sobre a Base inteira, alguém meio stealth, que sabia se misturar com os outros para escutar e espalhar rumores. Aquele garoto ruivo da 17ª, Axl. Soltou Cyber, riu de leve, e falou de novo com MasteraX:

— Outro ruivo? Axl, tenente da 17ª? Se o encontrar, me avise, eu preciso obter algumas... informações com ele.

— Vocês estão certos. Peço desculpas pelo mau comportamento. — Mesmo pensando na possibilidade de transformar todos os capitães em seu harém para distrair-se, Lucy ainda estava preocupada com a situação em que encontrava-se e seu surto violento era prova disso. Mexeu nos cabelos, os juntando como se fosse fazer um rabo de cavalo, mas apenas deixando-os para trás.

— Nunca passou pela minha cabeça que tivesse virado humana. Acredito que se virássemos, nos sentiríamos diferentes. Mais frágeis, talvez. Moles. Necessitando de ar. Confesso que não sei explicar. Mas isso é o que menos importa. Só gostaria de saber quem foi o responsável por isso tudo.

Levantou-se, abrindo uma porta de correr do outro lado do quarto, que dava para um guarda-roupa. MasteraX estava certo, havia pertences seus lá: roupas, sapatos, joias, cosméticos e alguns brinquedos que não mostraria para qualquer pessoa em qualquer momento, portanto, fechou a porta novamente. Isso aliviou-lhe um pouco, aumentando a possibilidade de que ainda tinha dinheiro naquele local. Além de poder gastar, poderia sustentar os outros Hunters em caso de emergências a longo prazo. Mas principalmente, gastar.

Se é que poderia sair daquele prédio.

Quando os dois estavam a sós, tirou as sandálias e reclinou-se no futon, num gesto de frustração. Apesar das piadas, não tinha vontade de pegar ninguém naquela hora:

— Certo, MasteraX. Pode falar agora. Conselhos para adaptar-se a uma vida parecida com a de um humano civil?



[OOC: Vou atualizar a descrição do quarto dela no próximo tópico, mas quero terminar essa "aventura" primeiro .-.]

— Uma gaiola dourada, não é? Estamos presos, mas temos tudo o que precisamos e mais um pouco. Ainda tenho medo de isso ser uma armadilha para que sejamos pegos de surpresa, complacentes e desarmados. Achou sua armadura no seu quarto? Armas?

Afofou o travesseiro do futon, dessa vez deitando de fato.

— Máquinas capazes de "digerir" não são novidade, MasteraX. Pesquisei sobre o assunto um pouco depois de ser ativada. Protótipos já existiam desde o início de 20XX. Um sistema digestório sintético só não é produzido em massa devido ao custo e à reação de humanos preconceituosos, além do impacto ambiental. Se vocês foram convertidos para o meu modelo, vocês digerem mas não geram resíduos. E isso é bom.

Quando soube do vício mais recente de Zero, não se conteve e acabou rindo um pouco:

— Coca? Mesmo? MasteraX, Coca é uma bebida inofensiva. Possui muito açúcar, humanos engordam se beber demais, mas somos reploids. Talvez ele fique mais agitado e rindo à toa por algumas horas, efeito do açúcar e da cafeína. Não embriaga, não tem efeito colateral. Crianças humanas bebem. Mas sinceramente? Nunca imaginaria que Capitão Zero da Unidade Zero — citou a patente cheia de cerimônias, mas em tom de brincadeira — gostaria de algo tão... suave. Coca é algo que me lembra mais o Axl. Sempre achei que o Zero levasse mais jeito de gostar de cerveja! — Afundou o rosto no travesseiro, voltando a rir.

— Enfim, — segurou o riso — depois disso tenho que concordar que há algo estranho demais por aqui. Zero baixando a guarda e imitando humanos é, com o perdão da palavra, bizarro. Isso não parece nem o tipo de coisa que X tenta convencê-lo a experimentar. Tem mais alguma coisa pra me falar? Se existe algo além dessa pensão, ou se mais alguém viciou em alguma coisa? Está ficando interessante!

Sentou-se, com um olhar mais interessado. Queria ver o rosto de MasteraX, já que o relaxamento de Zero poderia ser um sinal de que a situação não estava tão ruim, dado que ele quase nunca largava a postura de guerreiro:

— E essa máscara? É peça fixa ou tem um rosto humanoide aí?

— Menos mal. Não faria sentido se alguém que quisesse nos prender enfraquecidos deixasse nossas armaduras funcionais e acessíveis. Exceto se for algum Magma Dragoon da vida fazendo questão de combate limpo. Mas acredito que ninguém da base tenha a capacidade de enviar gente para dimensões paralelas. — Rolou para a borda — Nem o Maximillian. Por sinal, se ele pudesse, fazer todo mundo de rato de laboratório é bem típico dele.

Mexeu com o dedo pra que MasteraX chegasse mais perto. Já estava mais relaxada.

— Macarrão instantâneo, que horror! — Lucy riu, fazendo cara de nojo — Nunca fui Rank B, mas que eu saiba não pagavam tão mal pra que ele... tivesse que experimentar isso de comida humana. Vou, quero dizer, vamos ter que fazer alguma coisa, ele não vai se sustentar aqui com isso.

Mudou de assunto para o álcool, que apreciava mais:

— Se der, depois você experimenta vinho. Ou saquê. Eu adoro. Sabe, a gente parece que fica bêbado mas não é embriaguez de verdade, é tudo simulação. Álcool é bom, limpa os canais internos.

Notou que falava de modo mais informal, mais à vontade. Não foi algo planejado, mas estava dando certo.

— E eu já reconheci você, não precisa mais ficar com essa máscara. Pelo menos não comigo. Não acho que você tenha o rosto deformado ou algo do tipo, já que esteve bastante protegido. Pode me dar a honra? — Lucy voltou a ficar sentada, os pés no colchão, as mãos em cada lado da cabeça dele — Se for segredo, eu juro que não conto pra ninguém...

Segredo.

Ratos de laboratório.

Tecnologia nova.

Tirou as mãos.

— MasteraX, sabe daquela humana estagiária? Se ela está aqui? Apenas sei que ela estava trabalhando com Zero Space, pelo que ouvi Alia e Signas falarem. Ela trabalha com o Maximillian. Ah, não acredito...

— Mas você mesmo concordou com aquele garoto Cyber que isso tudo é real. — Não pôs as travas da máscara de volta, acreditando que a conversa logo voltaria a rumos mais interessantes.

— Bem, não sei muito sobre Zero Space, mas ele não simula um local, ele transforma um local. Isso aconteceu logo antes de eu voltar para a Base, não tenho detalhes. Se for verdade, a realidade foi reescrita e teremos mais um caso de um Maverick perigoso trabalhando debaixo dos nossos narizes. Por isso nem adiantaria estarmos armados, já que estaríamos literalmente em um lugar que não existe. Lugar nenhum.

Lucy compreendia a postura de MasteraX. Por mais que sua herança lhe desse a fama de esbanjadora e fútil, era uma veterana como ele. Focava sua mente nas missões.

— O Cyber também é cientista. Procure-o e pergunte se ele viu a humana antes de chegarmos. Tente achá-la, se possível. Mas qualquer suspeita, por menor que seja, dela estar morta, retorne a mim que chamarei os outros. Vou pensar em algo.

— Por que eles não avisaram antes? Do jeito que a situação está, vou praticamente interrogar os dois. — para não dizer outra coisa — Onde será? Não dá pra esperar!

Escutou MasteraX dar o ok sobre a máscara e não jogou a oportunidade fora:

— Certo, alguns minutos dá para esperar, sim... — Lucy tirou a máscara dele devagar, para que não quebrasse. Realmente não havia nada deformado. Mas não pode deixar de arregalar os olhos e ficar com a boca entreaberta pela surpresa.

Após o susto, Lucy viu que o rosto de MasteraX... era bem melhor do que ela imaginara. E apesar de toda aquela atitude violenta dele na 16, o rosto dele até era bem... doce, na falta de uma palavra melhor. Realmente, ele era bem parecido com...

... era como se eles fossem gêmeos. Gêmeos, nossa. Isso seria interessante. Pelo menos com ele conseguiria fácil, a outra metade que deu, dá e dará muito mais trabalho.

— Sim, e estou feliz com o que vejo. Podemos continuar a conversa, mas antes...

Puxou-o mais próximo pela gola de sua camiseta sem nenhuma dificuldade. Apesar de sua aparência, não existiam diferenças de força física entre reploids masculinos, femininos ou neutros. Quando ele esteve grudado o bastante, abraçou-o e beijou com agilidade. Foi intenso, sim, mas não foi até onde queria para não assustar o homem. Soltou- o e deu um passo para trás.

— Pronto. E pensando melhor, acredito que a humana esteja bem. Se X está aqui, é certeza que ela tenha sido prioridade para ele. De qualquer forma, o que tenho para conversar seria melhor falar junto aos outros Hunters. — Respondeu animada, de uma maneira até mais juvenil do que ela costumava falar — Vamos para as termas, então!

E pôs, como nota mental em seu cérebro, "Capitão da 16ª: EM PROGRESSO".

Então ele tinha habilidade no assunto, era longe de ser virgem. Seu corpo tinha notado muito bem. Isso era ótimo.

Sentiu o maior desânimo ao vê-lo colocando a máscara de volta, queria beijá-lo mais uma vez, mas o rosto dele sendo o que era, compreendera sua decisão.

— Ótimo, vamos à reunião logo. — Fixou o olhar em MasteraX — E claro, pode continuar, estarei livre, sim.

Sucesso.

[já dá pra fechar. Posta com ele nas termas que eu posto em seguida]

[ Ok. Fechado. ]